O brincar na psicanálise infantil: a linguagem da criança

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Sumário

O brincar é um recurso fundamental no atendimento psicanalítico de crianças, permitindo que elas expressem, por meio de jogos, desenhos e fantasias, conteúdos emocionais que muitas vezes não conseguem colocar em palavras.

Muito mais do que um momento lúdico, o brincar, na clínica psicanalítica, é um caminho privilegiado que possibilita à criança revelar seu mundo interno e elaborar conflitos, ansiedades e dores psíquicas.

Neste artigo, vamos explicar o papel do brincar na psicanálise infantil, qual é a função do analista nesse processo, em quais situações buscar esse tipo de acompanhamento e quais benefícios ele pode trazer para o desenvolvimento emocional da criança.

Como se trabalha através do brincar na psicanálise infantil?

Na psicanálise, o brincar não é apenas uma atividade recreativa: ele é parte central do processo de escuta, pois permite que a criança manifeste emoções, fantasias e conflitos de forma simbólica.

Diferente da brincadeira cotidiana, cujo objetivo principal é a diversão, na clínica psicanalítica o brincar assume um lugar fundamental. Isso significa que, ao acompanhar as produções da criança durante o jogo, o analista busca compreender o sentido inconsciente presente em suas ações, escolhas e narrativas.

Historicamente, a psicanálise reconheceu o valor do brincar a partir dos trabalhos de Melanie Klein, que introduziu o uso do jogo como forma de associação livre infantil, e de Donald Winnicott, que destacou a importância do brincar para o desenvolvimento emocional saudável e para a constituição do self.

O brincar como linguagem: quando a criança fala através dos jogos e brinquedos

Na psicanálise, entende-se que o brincar é uma linguagem própria da infância. 

Isso porque, crianças ainda não dominam completamente os recursos verbais para expressar emoções complexas e, muitas vezes, sentimentos como medo, tristeza, raiva ou ciúme se manifestam de maneira simbólica durante o jogo.

Por exemplo, uma criança que organiza e derruba blocos repetidamente pode estar expressando algo sobre destruição e reconstrução, ou um desejo de controle sobre o ambiente. 

Já uma brincadeira de “família” com bonecos pode trazer à tona questões relacionadas às relações afetivas e à dinâmica familiar.

É essencial respeitar a escolha dos brinquedos e dos temas trazidos pela criança. Forçar uma narrativa ou direcionar o jogo pode bloquear o fluxo espontâneo de expressão, que é justamente o que o analista busca compreender.

O papel do analista na escuta e interpretação do brincar

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O psicanalista, ao trabalhar com o brincar, não é apenas um “observador” distante. Ele se envolve na brincadeira quando necessário, mantendo sempre uma postura de escuta atenta e acolhedora.

O equilíbrio é fundamental: é preciso permitir que a criança conduza o jogo, garantindo sua espontaneidade, ao mesmo tempo em que o analista identifica padrões, símbolos e repetições que podem revelar conteúdos inconscientes.

A postura de acolhimento e não julgamento é essencial para que a criança se sinta segura e confiante. É nessa relação de confiança que ela pode se abrir sobre suas angústias e desejos, mesmo sem falar diretamente.

Essas interpretações, quando feitas no momento adequado e de forma sensível, podem gerar frutos importantes na terapia. 

Ao dar sentido ao que a criança expressa simbolicamente, o analista ajuda a transformar emoções confusas ou intensas em algo que possa ser nomeado e elaborado. 

Esse processo contribui para que a criança compreenda melhor seus sentimentos, desenvolva recursos internos para lidar com situações desafiadoras e encontre novas formas de se relacionar consigo mesma e com o mundo.

Quando procurar psicanálise para a criança?

Muitos pais ou cuidadores se perguntam em que momento é adequado buscar ajuda profissional. 

Alguns sinais de que a criança pode estar precisando de acompanhamento incluem:

  • Mudanças bruscas no comportamento ou no desempenho escolar;
  • Isolamento ou dificuldade de interação com outras crianças;
  • Medos excessivos, ansiedade intensa ou crises de choro frequentes;
  • Comportamentos agressivos ou explosões de raiva;
  • Regressões, como voltar a fazer xixi na cama após já ter aprendido o controle;

Na psicanálise, também se observa quando o brincar se torna restrito, repetitivo ou até ausente, pois isso pode indicar bloqueios emocionais.

É importante reforçar que não é preciso esperar que o problema se torne grave para buscar apoio. Quanto antes a escuta especializada acontece, maiores são as chances de ajudar a criança a se desenvolver de forma saudável.

Benefícios da psicanálise com crianças

O trabalho analítico com crianças pode trazer diversos benefícios, entre eles:

  • Redução de sintomas de ansiedade e estresse;
  • Melhoria nas relações interpessoais;
  • Fortalecimento da autoestima e da segurança emocional;
  • Desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e maior capacidade de lidar com frustrações;
  • Desenvolvimento de recursos internos para enfrentar situações desafiadoras.

Esses ganhos não acontecem de forma imediata, mas são construídos gradualmente, a partir da relação analítica e do espaço de escuta que a psicanálise proporciona.

Minha experiência como psicanalista infantil

Como psicóloga clínica e psicanalista, utilizo o brincar como via fundamental de comunicação com a criança.

Através do brincar, consigo criar um espaço seguro e acolhedor, onde cada criança pode expressar suas emoções, fantasias e conflitos internos de forma simbólica.

Ao observar e participar das brincadeiras, consigo compreender melhor o mundo emocional de cada criança, identificando padrões e conteúdos que podem não ser verbalizados. 

Essa escuta cuidadosa permite que eu as ajude a elaborar suas experiências, fortalecer seus recursos internos e desenvolver estratégias para lidar com desafios emocionais e relacionais.

Meu objetivo é que, por meio do brincar na análise, a criança se sinta ouvida, compreendida e apoiada em seu desenvolvimento emocional, construindo um caminho de crescimento e bem-estar de forma respeitosa e individualizada.

Se você percebe que seu filho apresenta mudanças de comportamento, dificuldades emocionais ou simplesmente acredita que ele poderia se beneficiar de um espaço de escuta qualificada, considere agendar uma consulta

A psicanálise pode ser um caminho transformador para o desenvolvimento e o bem-estar infantil.

Foto de Juliana Koury

Juliana Koury

Juliana Koury é psicóloga clínica, psicanalista e atende em seu consultório na Vila Mariana, em São Paulo, ou online.

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